Super Mulheres da minha Vida!!! #3

Sabem aquelas pessoas que carregam um brilho especial no olhar?

A Regiane é, sem dúvida, uma dessas pessoas!!!
 
Tem sempre um conselho para dar, tem sempre um projeto novo para falar, tem sempre ideias novas para discutir e acima de tudo, tem sempre uma palavra de carinho e incentivo, ainda que que a milhares de quilómetros de distância.
 
 
Tive o grande privilégio de conhecer a Rê em 2010, em mais uma incursão profissional minha a Angola. Fui implementar software na empresa onde ela trabalhava e ficámos amigas desde logo. Demos muitas gargalhadas juntas e, apesar de nos conhecermos há tão pouco tempo, parecia que já nos conhecíamos há anos. A verdade é que a amizade que nos une permanece ao longo deste tempo, mesmo não nos vendo tantas vezes como desejamos, mas ambas sabemos que estamos sempre à distância de uma conversa ou telefonema!!!

Deixo-vos aqui a história de uma mulher lutadora, que nasceu pobre mas que tem uma riqueza imensa dentro dela!!!
 
"Morávamos num bairro muito simples de S. Paulo, éramos pobres, então comecei a trabalhar muito cedo como empregada doméstica e estudava à noite. Nunca me esqueci que a avó Maria dizia “Estudo é tudo!!!” e sempre procurei fazer todos cursos possíveis e imaginários, alguns em áreas que nem sabia que existiam mas ainda assim avançava. Trabalhei na casa da Cleusa durante 5 anos e tenho contacto com ela e a família até aos dias de hoje, graças ao Facebook. Foi com este trabalho e com muita poupança, que consegui comprar o meu primeiro computador. Como fiquei radiante e orgulhosa da minha primeira conquista!!!
 
Naquele tempo eu já sonhava alto, queria ser uma grande empresária como via nas novelas da Globo, mulheres bonitas, inteligentes, ricas e independentes. Movida por este desejo, aos 18 anos escrevi uma carta com todas as metas que deveria alcançar até chegar aos 30 anos. Eram objetivos possíveis de realizar (graduação na faculdade, comprar um carro, uma casa, casar) mas que iam exigir de mim muito trabalho, dedicação e esforço.

E a verdade é que consegui realizar todas as minhas metas de menina de 18 anos antes dos 30. Como é óbvio, tive que passar por caminhos apertados e bem difíceis mas consegui!!!

Focada na minha lista de metas, aos 19 anos decidi deixar de trabalhar como empregada doméstica e consegui trabalho numa empresa pequena, como auxiliar administrativa. Na verdade eu fazia tudo, mas foi bom porque aprendi muito e foi com este trabalho que consegui alugar a minha primeira casa. Lembro-me como se fosse hoje, a minha irmã deu-me um prato, um garfo, uma colher, uma faca e um copo. E eu só tinha uma cama e a minha televisão. Agora é tão pouco mas para mim ter isto naquele momento significava tanto. Significava a minha independência!!!
 
Fui muito feliz na minha casinha, mas ainda não me contentava com o que eu tinha, sai desta empresa e fui em busca de algo mais. Na época eu já tinha começado o curso de inglês na Wizard e acreditava que conseguiria rapidamente um trabalho melhor.
Consegui emprego  como rececionista na Flutrol Lda, uma empresa que desenvolve equipamentos para geração de pressão hidráulica, e achava fantástico porque nunca tinha trabalhado numa empresa com mais de 10 pessoas. E lá, a cada dia fui aprendendo coisas novas até porque eu sempre fui muito curiosa, e sempre precisei saber e entender exatamente o que me era pedido para fazer.
Com a minha evolução fui ganhando espaço numa empresa de homens, onde para eles as mulheres deviam ficar numa mesinha a atender o telefone.
Quando fui promovida para gerir o PCP (Planeamento e Controlo da Produção) fiquei aterrorizada, ia começar a trabalhar com os engenheiros. Pus o salto alto de lado e passei a usar o cabelo preso, calças e ténis, e a tentar perceber como era todo o processo de industrialização das máquinas. Infelizmente não foram tempos fáceis para uma mulher no meio de homens. Várias vezes eu tinha que ouvir “O seu lugar é atras da sua mesa.”, outros de pirraça não carregavam um camião com o material mas eu, atrevida, pegava nas caixas e resolvia o problema e mostrava-lhes que também era capaz.
Formei-me como contabilista e passei a gerir a área de faturação, e em simultâneo fazia também a gestão das importações e exportações da Frutrol Lda. Trabalhei nesta empresa durante 8 anos até que chegou o momento de voar.
Precisava de continuar a minha busca pelo que me fazia feliz, que me realizava, e sentia que faltava algo, mas não sabia o que era. Eu já era casada e também estava infeliz no casamento, não estávamos alinhados para a mesma direção. Nesta fase de procurar nova oportunidade de trabalho, o meu CV é selecionado e no email de resposta vem o seguinte: Vaga para Angola. 
Ao falar com meu marido ele sempre foi pessimista e não me deu qualquer tipo de apoio para seguir este caminho mas o meu sexto sentido dizia-me para seguir em frente. Como mulher determinada que sou, segui a minha intuição e respondi ao email dizendo que aceitava. Só depois é que fui pesquisar sobre Angola e a verdade é que não achei uma má ideia se eu fosse realmente selecionada.
Passei por todo o processo de recrutamento às escondidas do meu marido até porque éramos tantos candidatos que eu nunca imaginei conseguir o lugar, mas um belo dia recebo um telefonema da empresa a dizer que tinha sido selecionada e que viajaria dentro de 15 dias para Angola.
Já não sabia se pulava de alegria ou se morria de medo de contar ao meu marido. Dentro de mim eu já sabia que nada me faria desistir, e como o casamento estava no limite pensei “É agora ou nunca”. Falei com o Adriano e no primeiro momento acho que ele queria matar-me, então usei meu lado positivo para persuadi-lo. Fiz as malas e segui para Angola com um contrato de 3 meses!
Estava há menos de um mês em Angola quando o meu marido me pediu o divórcio. Eu aceitei! Ele pensou que me faria desistir do meu trabalho longe de casa mas eu preferi desistir dele e pensar em mim. Talvez tenha sido a primeira vez que eu tenha feito isso mas foi uma sensação fantástica!!!
Ao fim de 3 meses regressei ao Brasil, assinei os papéis do divórcio e senti-me livre para voar ainda mais alto. E o impossível até ali tornou-se possível. Fiz, e ainda faço coisas, que antes nem sequer equacionava. 
Não foi fácil mas superei, apareceu a nova Regiane mais solta, mais alegre, mais extrovertida, mais feliz!!!

 
Fui contactada para regressar para Angola e há 7 anos que moro em Luanda. Tem sido uma relação de amor e ódio em que o amor sempre vence.
Também em Angola sempre procurei algo melhor e mais desafiante. Claro que houve dias de lágrimas sem fim em que o desejo de desistir de tudo e de todos era gigante. Mas, mais uma vez, fui abençoada por conhecer um grande amigo o Celso Salles. E no meio destas conversas em momentos tristes, desabafos e vontade de desistir, o Celso mostrou-me um caminho em que eu podia ser feliz e fazer os outros felizes: o voluntariado.
 
 
Juntos criámos a Lúmina África para que pudéssemos potenciar ações para as intuições necessitadas. Começámos por visitar várias instituições sociais onde nos deparámos com as necessidades prementes de um país carenciado. Então, resolvemos desenvolver iniciativas que pudessem, de alguma forma, contribuir para uma vida melhor das pessoas envolvidas.
  
Atividade realizada no CACAJ
 
Evento para angariação de Fundos para o CACAJ
Lúmina África nasceu na área social, motivada, naturalmente, pelas grandes necessidades de Angola e foi crescendo, sendo que neste momento conta já com diversos serviços, nunca esquecendo a vertente social e de apoio aos mais carenciados. Como Diretora da Lúmina África, o meu intuito é sempre valorizar o lado social porque sei que é assim que me sinto feliz, a ajudar quem precisa de mim.
 
Não vou negar que existem momentos em que tenho vontade de desistir de tudo, mas a verdade é que fui feita para voar. Como diz o meu amigo Celso sou "uma Águia e Águias não são para estarem presas". E é com este pensamento que a cada dia procuro levantar voo e aterrar onde precisam de mim. Mesmo nos dias mais tristes e escuros, estando longe da minha família, procuro forças para levantar voo, para sorrir e fazer alguém sorrir.
 
Depois de 7 anos em Angola, em que vim contra tudo e contra todos, sinto-me uma mulher melhor, sinto que dei tudo de mim em todos os projetos em que participei, a todas as crianças com quem brinquei, em todos os momentos em que ajudei alguém, em todas as minhas relações quer profissionais, quer pessoais. Sinto-me uma mulher mais rica por cada sorriso que vi quando ajudei!!!
 
Estou na casa dos 40 e sei que ainda tenho grandes desafios pela frente, quem sabe O amor, uma nova aventura noutro país, não sei!!!  Seja qual for o próximo desafio, o meu único plano é continuar a voar para qualquer lugar em que eu possa aterrar com segurança e feliz."
 
Voluntariado com amor é uma oportunidade única de fazer o bem sem olhar a quem.
 
 
 
 

 
 

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